sábado, 30 de janeiro de 2016

“Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: ‘Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?’”. (Mc 4,38)


Existem muitos modos de importar-se com alguém. Em todo caso, o verdadeiro cuidado demonstra-se pela finalidade, ou seja, ao fim, o cuidado é sempre procurar o bem para alguém. Não um bem momentâneo, mas o bem que dura, que traz consigo uma situação duradoura.

Às vezes, é bom estar próximo para proteger os filhos, em outros casos, é melhor que eles “se virem sozinhos”. Durante um tempo é bom que os filhotes permaneçam nos ninhos, depois é necessário que sejam atirados para fora. Reconheço que não é fácil discernir um momento do outro, mas Jesus hoje nos dá uma pista para este critério.

Jesus estava no barco, mas dormia. A tempestade soprava, assustava os discípulos e quase afundava o barco. Por que Jesus não acordava? Sem dúvida para dar-nos mais um ensinamento que precisava perdurar no tempo: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (v. 40). Numa tempestade, fugir do barco não é uma opção. O melhor é permanecer firme, por causa da confiança em Deus. Passam as tempestades, mas Deus é fiel: esta é uma lição importante.

Catecismo 164: “Luminosa em virtude daquele em que ela crê, a fé é muitas vezes vivida na obscuridade. A fé pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos muitas vezes parece estar bem longe daquilo que a fé nos assegura; as experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e da morte parecem contradizer a Boa Nova; podem abalar a fé e tornar-se para ela tentação”.


Francisco: “‘O que fazer quando se enfrenta um dificuldade?’ Em primeiro lugar: não desesperar. Nunca! Ficar tranquilo. Depois, buscar a maneira de superá-la. E se não for possível superar, suportá-la. Até que surja a possibilidade de superá-la. Nunca se deve assustar com as dificuldades. Nunca se deve entrar em pânico. Nós somos capazes de superá-las todas. Precisamos apenas de tempo para compreender, inteligência para buscar o caminho e coragem para seguir em frente” (05/02/2015)

(29/01/2016) “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. (Mc 4, 27)


A primeira coisa que me veio à mente quando pensava nas parábolas do Evangelho de hoje foi a importância da presença. De fato é um mistério. O homem, por si, não pode germinar a semente, nem a semente sem o homem ou a terra, tampouco a terra produz espontaneamente a vida. Cada elemento é importante no processo, que se dá no encontro, na coexistência mútua. Tal é a comparação que Jesus faz do Reino de Deus.

Madre Tereza de Calcutá disse, certa vez: “Talvez você seja a única Bíblia que o seu irmão lê”. Aquele que traz em si a graça do Espírito Santo, que procura viver a Palavra de Deus, que recebe os sacramentos, que reza, que faz o bem e é misericordioso... torna-se, realmente, uma semente ambulante. O milagre do Reino passa por ele exige a sua presença.

Quantas vezes o cristão foge dos encontros que Deus lhe prepara: cortamos volta dos problemas, das pessoas que nos parecem repelentes, dos incômodos, dos mais pobres e necessitados. Jesus, hoje, nos convida a provocarmos encontros com nosso irmãos. Grandes milagres podem acontecer simplesmente pela presença de um cristão: junto ao leito de um hospital, nas penitenciárias, nas escolas, nas famílias, nas crises, na política, nos lugares públicos.

Catecismo 864: “Sendo Cristo enviado pelo Pai a fonte e a origem de todo apostolado da Igreja, é evidente que a fecundidade do apostolado, tanto nos ministros ordenados como o dos leigos, depende de sua união estável com Cristo. De acordo com as vocações, os apelos da época e osdons variados do Espírito Santo, o apostolado assume as formas mais diversas. Mas é sempre a caridade, haurida sobretudo da Eucaristia, que é como a alma de todo apostolado”.


Francisco: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”. (EG 49)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

“Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama?” (Mc 4, 21)


Ser luz é um desafio. Deus não nos criou como pessoas apagadas, mas luminosas, pois trazemos a centelha de seu Amor Divino. Amados por Deus, temos a capacidade de amar os nossos irmãos. E isto não é uma coisa complicada de se fazer, não exige projetos monumentais, mas exige as mais básicas virtudes do dia a dia: educação, paciência, carinho, laboriosidade, misericórdia...

Esconder-se é fácil, mas a luz que foi acesa em nós não pode ser contida por muito tempo. Lembro que, quando criança, ouvindo o Evangelho de hoje, eu imaginei o que seria colocar uma vela debaixo da cama: Incêndio! Catástrofe! Palmadas e castigo! O universo infantil é ingênuo, mas traz consigo uma verdade profunda.

Quem nasceu para ser fonte de água viva, rio caudaloso de graças, não pode ser dique ou barragem. A fúria de um rio pode ser canalizada, mas não completamente contida. Muita gente é infeliz porque tem medo de se dar, de ser luz. Ou então, porque vive ressentida pelo que os outros não fazem. Jesus nos convida à alegria de sermos generosos.

Catecismo 953: “Na comunhão dos santos, 'ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo' (Rm 14, 7). (...) 'A caridade não procura seu próprio interesse' (1Cor 13, 5). O menor de nossos atos praticado na caridade irradia em benefício de todos os homens, vivos ou mortos, que se funda na comunhão dos santos. Todo pecado prejudica esta comunhão”.

Francisco: Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”. (MV, 15)


São Bento: Exerçam, portanto, os monges este zelo com amor ferventíssimo, isto é, antecipem-se uns aos outros em honra. Tolerem pacientissimamente suas fraquezas, quer do corpo quer do caráter; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure aquilo que julga útil para si, mas, principalmente, o que o é para o outro”. (Regra 72: Do bom zelo do monge, 3-7)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

“Escutai! O semeador saiu a semear”. (Mc 4, 3)


Nossa vida admite duas contabilidades diferentes: a contabilidade do semeador, que é generoso, que gasta tudo e já entregou sua vida a um projeto único, sem direito a remorsos; e a contabilidade do terreno, que é calculista. O dilema do calculista é a indecisão: onde gastarei minhas energias? Nas preocupações da vida ou no fruto? Na tribulação ou na semente? Com satanás ou com a fecundidade?

Na verdade, a generosidade só aparece em um coração que se decidiu. Por que o semeador gasta tantas sementes? Porque ele não cobiça outro campo. Este é o convite de Jesus: Decida-se! Queira o Reino! Ame a Deus sobre todas as coisas! Não olhe para trás! Apaixone-se! Gaste-se! Não dá para economizar vida, ela se esvai. A questão é onde investir.

Muitas vezes aparecem aquelas dúvidas: Será que eu devo tentar de novo? Fulano merece este cuidado? Por que repetir as mesmas coisas? O trabalho sempre sobra para mim? São os pensamentos do calculista. O generoso é diferente. Ele é audacioso e um pouco “sem vergonha”, é capaz de tentar sempre, e isto lhe proporciona alegria e paz.

Catecismo 943: “Graças a sua missão régia, os leigos têm o poder de vencer o império do pecado em si mesmos e no mundo, por sua abnegação e pela santidade de sua vida”.

Francisco: “A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”. (EG, 1)


São Bento: “Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos? Eis que pela sua piedade nos mostra o Senhor o caminho da vida”. (Prólogo da Regra, 19-20)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

“Em qualquer casa em que entrarem, digam primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’”. (Lc 10, 5)


Nós, os missionários de Jesus Cristo, fomos instruídos a ter uma santa despreocupação. Levamos conosco a paz do Senhor e não pedimos nada em troca: isto é muito importante!

Num ambiente em que os judeus cumpriam uma gama de leis rituais de purificação, e se distanciavam da casa dos pagãos e dos “impuros”. Jesus simplifica a vida de seus missionários entregando-lhes a paz, proibindo mochilas pesadas, e ordenando que confiassem na providência de Deus.

As preocupações exageradas só servem para frear o anúncio da Boa Nova. A medida da simplicidade dos discípulos será também a medida de sua eficácia, de seu acolhimento, de sua fidelidade e de sua paz.

Catecismo 852: “O Espírito Santo é o protagonista de toda missão eclesial. É ele quem condiz a Igreja pelos caminhos da missão”.

Francisco: “A memória faz-nos presente, juntamente com Jesus, uma verdadeira «nuvem de testemunhas» (Heb 12,1). De entre elas, distinguem-se algumas pessoas que incidiram de maneira especial para fazer germinar a nossa alegria crente: «Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a Palavra de Deus» (Heb 13,7). Às vezes, trata-se de pessoas simples e próximas de nós, que nos iniciaram na vida da fé: «Trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Lóide e na tua mãe Eunice» (2Tm 1,5). O crente é, fundamentalmente, «uma pessoa que faz memória»". (EG, 13)

São Bento: “Cingidos, pois, os rins com a fé e a observância das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos os seus caminhos para que mereçamos ver aquele que nos chamou para o seu reino”. (Prólogo da Regra, 21)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. (Mc 16, 15)


Esta foi a despedida de Jesus. Repentinamente me lembrei de algumas pessoas santas que tive a alegria de acompanhar até o leito de morte. Entregues ao destino comum dos homens, estavam muito serenas indo para os braços do Pai, mas sempre tinham uma recomendação que atribuíam importância. Realmente a missão supera o tempo de vida de um homem.

O Filho de Deus, como homem verdadeiro, morreu assim: algumas recomendações importantes ao discípulo amado; apelos que, no caso, transcendiam muito o primeiro significado das palavras: tenho sede, por exemplo; e uma simples e filial entrega ao Pai. Três dias depois veio a novidade cristã de todos os tempos: Ele ressuscitou!!!

Agora, depois da ressurreição, ainda restam algumas coisas a dizer, alguns corações para reconciliar e confirmar, e, de novo, algumas recomendações importantes: Ide! No coração humano e divino de Jesus cabem as angústias e os anseios dos homens e das mulheres de todos os tempos. A missão é a resposta do coração de Jesus aos legítimos anseios do mundo.

Catecismo 2: “A fim de que este chamado ressoe pela terra inteira, Cristo enviou os apóstolos que escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: ‘Ide, e fazei discípulos meus todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos’ (Mt 28, 19-20). Fortalecidos com esta missão, os apóstolos ‘saíram a pregar por toda a parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam’ (Mc 16, 20)”.

Francisco: “Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal: Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: ‘A vida alcança-se e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros’”. (EG 10)


São Bento: “Desejar a vida eterna com toda a cobiça espiritual. Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreendê-lo”. (Regra 4:Quais são os instrumentos de boas obras, 46-47)

domingo, 24 de janeiro de 2016

“Então, começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir’”. (Lc 1, 21)


Tem tanta gente que quer “ver cumprida a Escritura” hoje! Dizem isto quando acontece um terremoto, um maremoto, um desastre qualquer... Falam de uma intervenção ou castigo divino já anunciado em Daniel, ou no Apocalipse, ou pelo próprio Jesus. Interessante é que Jesus fala de “cumprimento” em um sentido completamente diferente destes apocalípticos modernos.

Jesus diz que “Ele” é o cumprimento das Escrituras, e o povo fica cofuso: – “Como assim? Sem terremoto? Sem terrorismo? Sem show?!”; Isso mesmo! Jesus, que é a Palavra de Deus encarnada, não é um Pop Star. Veio falar “aos pobres, aos cativos, aos cegos e aos oprimidos” (v. 18), que, em geral, não são um bom público consumidor.

Muito barulho serve para espalhar o rebanho. Jesus veio para nos congregar pela fé em sua palavra, pela esperança em suas promessas e pelo amor de seu coração divino: este é o cumprimento da Palavra de Deus. Cuidado com os barulhentos! Assim como aconteceu na experiência religiosa dos profetas do Antigo Testamento, Deus fala no murmúrio da brisa da tarde (Cfr. 1Re 19, 11-13).

Catecismo 949: “Na comunidade primitiva de Jerusalém, os discípulos ‘mostravam-se assíduos nos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações’ (At 2, 42). A comunhão na fé. A fé dos fiéis é a fé da Igreja, recebida dos Apóstolos, tesouro de vida que se enriquece ao ser compartilhado.”

Francisco: Os cristãos têm o dever de anunciar (o Evangelho), sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte maravilhoso, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração’”. (EG, 14)


São Bento: Assim como há um zelo mau, de amargura, que separa de Deus e conduz ao inferno, assim também há o zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna”. (Regra 72: Do bom zelo dos monges, 1-2)