quarta-feira, 11 de maio de 2016



SEMINÁRIO DIOCESANO DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Formação Humana para a Filosofia - 04/05/2016

O material que compartilhamos é fruto de uma reflexão comunitária dirigida no contexto de uma aula de formação humana. É possível que alguns termos precisem ser melhor esclarecidos e outros provavelmente são passíveis de contra-argumentos. Aceitamos todos os comentários e correções que enriqueçam a reflexão. Obrigado.

1. O que há de negativo na sexualidade?
Muitas vezes a sexualidade é vista com “maus olhos”, mas, no entanto, ela é a ponte que existe entre o “eu” e o “tu”. Ela é o modo de expressão de nosso interior (modo de ser e sentir), leva-nos a um outro que nos completa e plenifica. O que há de negativo na sexualidade é fruto de seu mau uso (por ignorância ou incapacidade). Pois, a sexualidade que deveria ser uma ponte, pode querer tomar o lugar de ponto final, ídolo sem rosto das ações humanas. Seu mau uso cria no homem vícios que o levam a fechar-se cada vez mais em si mesmo e a usar o outro de modo cada vez mais egoísta e violento.

2. Como se controla uma energia incontrolável?
A energia sexual é muitas vezes qualificada de “incontrolável”. Na verdade, todas as energias do universo tem uma fisionomia determinada, um ritmo, uma ordem. Assim também a energia sexual. Mas isso não significa que ela seja incontrolável. Para controlar a criação o homem precisa passar por dois estágios, que coexistirão de modo criativo por toda a vida: o conhecimento (pela experiência, pelo estudo e pelo conselho dos sábios) e o trabalho, que cria soluções e estruturas para o fim desejado.

3. A sexualidade leva ao outro pela via da pobreza.
Esta frase exige certa meditação. De fato, não há autossuficiência na criação, todos os seres criados são dependentes de outros semelhantes e, por isso, a pobreza de um ser vivo o levará sempre a procurar outro que o complete. Isto acontece desde as estruturas biológicas mais básicas, até as mais complexas relações pessoais. Assim, a pobreza ontológica não é um mal que devemos superar, mas é uma constatação sobre nossa condição de criaturas, que devemos amar e viver com equilíbrio. Não crescemos quando somos “independentes do mundo”, mas quando sabemos nosso lugar, quando nos integramos ao Plano de Deus e vivemos com gratidão os dons que recebemos todos os dias de todos os que convivem conosco, contribuindo positivamente para o crescimento de todos em Cristo. Na verdade, só em um ambiente de interação social o homem pode descobrir-se, desenvolver-se e identificar-se.

4. Onde está o amor na sexualidade?
O amor é a essência da sexualidade, pois caracteriza sua doação sadia. Toda relação sadia é amorosa. Sem o amor não há relação fecunda, mas somente jogo de interesses, desconfiança, egoísmo e fechamento em si mesmo.

5. O que você entende por capacidade oblativa da sexualidade?
A sexualidade – modo sexuado de relacionamento com o outro, condição primária de qualquer relação humana – é feita para a doação, para a oblação. A verdadeira satisfação da sexualidade não está em reter o bem no indivíduo, mas comunicá-lo. Isto pode parecer mais claro no relacionamento matrimonial, mas para o consagrado oblação sexual ocupa, também, lugar de destaque. Pois sua sexualidade deve ser entendida como oblação amorosa e total a Deus e ao pobre de amor, feita como um ato consciente baseado na predileção e, consequentemente, na renúncia.

6. Em que âmbitos a sexualidade seria infecunda?
A sexualidade é a base de todas as relações humanas e, ao mesmo tempo, é fecunda em novas formas de relação, visando o bem pessoal e comum. Entretanto, quando perde seu foco original e deteriora-se em egoísmo e violência, a sexualidade torna-se uma energia destrutiva, infecunda e geradora de morte.

7. Sexualidade e humildade.
A sexualidade bem vivida é, ao mesmo tempo, fruto e condição para o domínio de si mesmo. O homem, quando não é escravo das próprias paixões, acaba descobrindo, com a ajuda de Deus, seu verdadeiro lugar no universo. O homem que busca a virtude da humildade pode olhar objetivamente suas limitações e sua responsabilidade ante Deus, o próximo, si mesmo e a criação, não como um fardo, mas como o caminho natural de seu crescimento como ser humano. Caminho tanto mais desejado e luminoso, quanto maior é a humilde aceitação de si mesmo para que possa crescer no amor.

8. “Para muitos, melhor não estarem completamente livres de tentações; convém, ao contrário, que sejam, amiúde, delas combatidos, a fim de que não confiem, demasiadamente, em si mesmos, nem se exaltem com a soberba, nem tampouco busquem com ânsia as consolações exteriores”[1].
Neste caso, a confiança demasiada em si mesmo é um mal, pois é uma ilusão que leva homem a colocar-se temerariamente em ocasiões perigosas, das quais, humanamente, não poderá fugir ou vencer sem uma especial intervenção divina. Os mestres de espiritualidade veem nesta ignorância do homem sobre sua real condição a principal arma do demônio, do mundo e da carne para desviá-lo do bom caminho.

Para reflexão: ICor 13,1-13
1 Se eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. 2 Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. 3 Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria. 4 O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; 5não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; 6não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. 7 Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. 8 O amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. 9 Com efeito, o nosso conhecimento é limitado, como também é limitado nosso profetizar. 10 Mas, quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito. 11 Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. 12 Agora nós vemos num espelho, confusamente; mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas em parte, mas, então, conhecerei completamente, como sou conhecido. 13 Atualmente permanecem estas três: a fé, a esperança, o amor. Mas a maior delas é o amor.


[1] Sæpe meliores in existimatione hominum magis periclitati sunt propter nimiam suam confidentiam. Unde multum utilius est, ut non penitus tentationibus careant, sed sæpius impugnentur ne nimium securi sint, ne forte in superbiam eleventur, ne etiam ad exteriores consolationes licentius declinent. O, qui nunquam transitoriam lætitiam quæreret, qui nunquam cum mundo se occuparet, quam bonam conscientiam servaret. O, qui omnem vanam sollicitudinem amputaret, et duntaxat salutaria ac divina cogitaret, et totam spem suam in Domino constitueret, quam magnam pacem et quietem possideret. (Imitatio Christi, I, 20, 4): Muitas vezes os melhores no conceito dos homens correram graves perigos, por sua demasiada confiança. Por isso, para muitos é melhor não serem de todo livres de tentações, mas que sejam frequentemente combatidos, para que não confiem demasiadamente em si, nem se exaltem com soberba, nem tampouco busquem com ânsia as consolações exteriores. Oh! Quem nunca buscasse alegria transitória, nem deste mundo cuidasse, que consciência pura teria! Oh! Quem arredasse todo vão cuidado, para só cuidar das coisas salutares e divinas, pondo toda a sua confiança em Deus, de que grande paz e sossego gozaria!

terça-feira, 10 de maio de 2016



Algumas frases de Santo Tomás de Aquino sobre a caridade.

Questões disputadas: Questões disputadas sobre as virtudes, Questão 2


Artigo 2: Se a caridade é uma virtude.


Respondeo
“A virtude torna bom quem a possui e torna boa a sua obra, é manifesto que o homem, conforme a própria virtude, se ordena a seu próprio bem”.

“Porque a virtude é praticada para o bem, requer-se para qualquer virtude que ela opere bem para alcançar o bem, isto é, voluntária e prontamente, com deleite e, também, firmemente, pois estas são as condições para a obra virtuosa, que não podem convir para alguma operação, a não ser que quem opere ame o bem pelo qual atua, já que o amor é o princípio de todos os afetos voluntários”.

“Aquilo que se ama se deseja enquanto não se tem, e produz deleite enquanto se tem, e os obstáculos que impedem ter o amado causam-lhe tristeza. E as coisas que se fazem por amor se fazem também com firmeza, prontamente e com deleite. Portanto, para a virtude se requer o amor do bem, pelo qual se pratica a virtude”.

“O homem, para que seja admitido pela graça divina na participação da beatitude celeste, que consiste na visão e fruição de Deus, age como cidadão e sócio dessa sociedade bem-aventurada, que se chama Jerusalém celeste (...). Por isso, certas virtudes gratuitas, que são as virtudes infusas, convêm ao homem, assim destinado aos céus, para cuja operação se exige anteriormente o amor do bem comum de toda a sociedade, que é o bem divino, enquanto é objeto da bem-aventurança”.

“Amar do bem de uma cidade (virtude do político) ocorre de dois modos: um modo para que a tenha, outra para que a conserve. No entanto, amar o bem de uma cidade para que a tenha ou a possua, não torna bom o político, porque também o tirano ama o bem de uma cidade para dominá-la. Ora, isso é amar mais ele mesmo do que a cidade, pois deseja esse bem para si, não para a cidade. Ora, amar o bem da cidade para conservá-la e para defendê-la, isto é, de fato, amar a cidade, é o que torna bom um político, como alguns, por causa da conservação do bem da cidade, se expõe aos perigos de morte e descuidam o bem privado”.

“(A caridade) que ama a Deus por ele mesmo e aos próximos que são capazes da beatitude, assim como a si mesmos. (Esta) repugna todos os impedimentos para si mesma e para os outros. Por isso, a caridade nunca pode existir com o pecado mortal, que é um impedimento da beatitude”.

Responsiones ad argumenta
“A dificuldade (em adquirir a virtude) não apenas provém da contrariedade, mas também da excelência do objeto”.

“O amor, segundo o que está na parte sensitiva, é uma paixão, que é certamente o amor do bem, mas conforme os sentidos. No entanto, tal amor não é o amor da caridade”.

“O objeto da caridade, a saber, Deus, transcende toda faculdade humana. Por isso, por mais que a vontade humana se esforce para amar a Deus, ela não pode alcançá-Lo quanto a proporção de que deve ser amado. E, por isso, diz-se não haver uma medida para a caridade”.

“Os dons (do Espírito Santo) aperfeiçoam as virtudes, elevando-as para além do modo humano (...). Ora, a acerca do amor de Deus, não existe nele imperfeição alguma que seja necessária aperfeiçoar por meio de algum dom. Por isso, a caridade não se põe como um dom da virtude, porque é mais excelente do que todos os dons”.