sexta-feira, 17 de agosto de 2018




Que imagem bonita!


Recentemente descobri um destes programas de internet que permitem combinar imagem com frases curtas e achei o máximo! Tenho a impressão de que nos tempos em que vivemos, onde todo mundo quer ver tudo em todas as redes sociais ao mesmo tempo, a combinação de imagem e frase ajudam a  evangelizar. Nos tempos de Seminário, tive um professor de pastoral que dizia que para evangelizar, é necessário que as ideias da homilia caibam em um carrinho de mão. Com isso ele queria dizer que as ideias devem ser concretas, ou seja, que sejam uma imagem clara para o coração de quem escuta.

Amar a Deus, fazer o bem, salvar a alma, ser missionário, perdoar, agradecer, pedir perdão... todas estas mensagens são boas, mas precisamos fazer com que sejam atraentes para contagiar com o bem o maior número de pessoas possível! Uma boa ideia tem que encher também o coração de bons sentimentos e isso fica mais fácil com boas imagens.

A uma destas postagens, uma amiga respondeu, dizendo: “que imagem bonita!”. Foi uma postagem sobre a Santa Missa. Na imagem, o sacerdote segurava a hóstia no momento das palavras da consagração, e sobre o altar estavam três ambulas prateadas, mas o detalhe que fez com que eu tivesse escolhido esta foto no “Google Imagens” foi que as âmbulas refletiam a assembleia santa que participava da Eucaristia.

Quem conhece Jesus Cristo e se apaixonou por sua mensagem quer, de todo coração, contemplá-lo no Céu. Ele é, como o diz o salmo “meu amor, meu refúgio, libertador, fortaleza e abrigo; é meu escudo: é nele que espero!” (Sl 143, 2). A Santa Missa também é expressão deste esforço cotidiano da Igreja de querer ver Jesus, de contemplá-lo; mas como será o coração deste Jesus que eu amo? Sem dúvida, cheio de gente!

Assim, gostei da imagem porque, ao meu modo de ver, todos estavam comigo no altar, num esforço contínuo de ser um só com o Cristo, na sua oferta, no seu sacrifício redentor, no seu amor da Cruz, que quer compreender o mundo inteiro em um só ato.

Somos tão pequenos diante deste amor: pecadores, egoístas, muitas vezes mal-humorados e até violentos, mas queremos mudar! Este sentimento de querer o melhor pode elevar o mundo: muda uma ação aqui e outra ali, em casa e no trabalho, e, com a graça de Deus, pode fazer coisas grandiosas!

Se aquela imagem bonita coube no carrinho de mão dos projetos concretos de alguém, nos bons propósitos para o amanhã concreto de uma pessoa, ela cumpriu sua missão. Mas qual é a nossa missão diante do grande bem que eu e você precisamos fazer? Amanhã poderá ser um dia melhor se nosso coração se parece com aquela âmbula da imagem: cheio de Cristo e cheio de irmãos.

"Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê" (1Jo 4, 20)



quinta-feira, 16 de agosto de 2018




Nem violão e nem cachorro!


Vocação é a urgência de um chamado, nunca nos esqueçamos disso!

Certa vez escutei uma anedota da querida Emmir Nogueira, cofundadora da Comunidade Católica Shalom, onde ela comentava sobre uma música que diz: “estou de malas prontas pra servir o meu Senhor”; dizia: “quem quer servir a Deus não tem tempo para fazer as malas”.

É bem assim que precisamos entender a nossa vocação: planos, coisas, tempo, projetos... tudo se relativiza ante a urgência de um chamado. Bagagem de missionário deve ser um pouco bagunçada mesmo e nunca pode pegar poeira! No andar da carruagem, nos tempos de oração e de serviço, as coisas vão se arrumando: sentimentos, projetos, ideias, fé...
Diz o Evangelho: “Um outro ainda lhe respondeu: ‘Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de minha casa’. Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus’”. (Lc 9,61-62)

Outro dia escutei a história de um ex-seminarista que pensava retornar ao Seminário, mas agora não, só depois de namorar, fazer uma faculdade diferente, viajar bastante. Pode ter certeza, este não voltará nunca! E se voltar, não vai perseverar. Não é um julgamento sobre a pessoa, ele parece ser um ótimo rapaz, mas é o julgamento de uma atitude: Ou se entende que ser padre é um chamado de Deus – e urgente! – ou não se descobriu ainda a beleza de uma vocação sacerdotal.

Não dá para tratar vocação como um sofá que hoje está no meio da sala e amanhã o encostamos no canto. Vocação é a casa! Ou melhor: é sair de casa em direção ao universo! A liberdade de seguir Jesus “sem cajado ou sacola”, conforme o mesmo capítulo de São Lucas (Cf. 9, 3) é sinônimo de urgência. Deus diz constantemente ao coração do vocacionado: “Vamos! O que está esperando? Não há tempo para isso! Corra!”

O título do artigo é inspirado em uma música da dupla Simone e Simaria, que tenho escutado, querendo ou não, por onde passo: “Fizemos tantos planos, compramos tantas coisas, mas o amor é longe disso (...). Pode ficar com a casa inteira e o nosso carro, por você eu vivo e morro! Mas dessa casa eu só vou levar meu violão e o nosso cachorro”.
Pois é! Sinto muito, minhas irmãs, mas na correria do amor não dá para levar nem violão e nem cachorro! Lamento.

“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder a sua vida por causa de mim a salvará. Com efeito, de que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se e arruinar a si mesmo?” (Lc 9, 23-25)


segunda-feira, 13 de agosto de 2018




Entre baleias e lobos: uma reflexão sobre a natureza humana


A internet é meu jornal mais lido – e meu canal mais visto também – há muito tempo. Percebi que ali eu posso ver opiniões diferentes e pensar sobre várias coisas que ampliam minha visão sobre o mundo. Há riscos! Por exemplo, os “famigerados fakenews” e a pertinaz tentação de só ler aquilo que me confirma e não o que me informa e me questiona. É bom ser consciente dos problemas, pois é o caminho para vencê-los.

Outro dia li: “Orca que carregava filhote morto há 17 dias finalmente o deixa ir”, e no texto: “Tahlequah havia dado à luz em 24 de julho, mas seu bebê viveu por apenas algumas horas. Desolada, a fêmea começou levar o corpo inerte para a superfície e ainda carregá-lo por onde ia. Ela tentou até dar algumas mordidas leves em sua barbatana, como se estivesse tentando acordá-lo”. (Diário de Brasília); e me questionava sobre o instinto materno, consagrado de vários modos nas expressões mais sublimes da arte e da cultura, e presente em alguns animais. Uma prova de que dentro de nós há algo deste “sentimento materno” é que a matéria da mãe-baleia foi replicada em vários sites, foi muito lida e diz algo quando a lemos. Não diz?

Não é um dogma religioso, não é romantismo poético, não é discurso pronto, não é falta de capacidade reflexiva: é natural. Talvez não seja para os “hamster”, cuja mãe devora alguns de seus filhotes para conseguir mais proteínas para a lactação. Mas, para o ser humano, amar os filhos é natural!

Nos bastidores das audiências públicas sobre o aborto promovidas por ministros do STF, nos dias 03 e 06 de agosto deste ano, um ativista pró-vida perguntava a uma senhora a favor do aborto: “O que uma gestante tem na barriga antes da 12ª semana é uma vida?” e isso já foi suficiente para que ela perdesse a fala e mudasse a conversa para discursos sobre a cultura machista dominante. Fiquei com vontade de entrar no vídeo e perguntar: “e se for o embrião de uma mulher?”. A prática inquestionavelmente patriarcal machista e conservadora da China comunista é abortista, e poucas meninas escapam daquele regime injusto.  

Li matérias a favor do aborto motivadas por uma suposta defesa da mulher, pelo direito de escolher ou não ter filhos, pelo direito ao próprio corpo, pelo “progresso”, mas em nenhuma se pensava na vida, quando esta já existe no ventre. Se um nascituro pode ser herdeiro do rei, porque não teria direito de nascer?

É hediondo que organizações internacionais esterilizem mulheres do terceiro mundo, mas é possível ver a malícia desta trama. Igualmente é lamentável que governos totalitaristas queiram intervir sobre a quantidade de filhos que uma família pode ter. Também lamento a insistência do “looby” contraceptivista ou abortista, e não acredito que estas causas tenham origem no desejo de fazer bem à humanidade. Mas botar na cabeça de uma nação – de mulheres!!! –, a partir do dramatismo de casos particulares e dos malabarismos do judiciário, que o “aborto é um direito da mulher”, não compreendo. Perdão pela estreiteza de pensamento, é que eu e minha mamãe vencemos juntos os nove meses de gestação: ela por mim e eu com ela; e por isso acredito que ela só queria o meu bem e que era direito meu nascer também.

Falei de “lobos” no título deste artigo, porque também as lobas expõem a própria vida para salvar seus filhotes. Por favor, não pense mal destes ilustres membros da família canidae! Não os compare com os hamster burgueses! Gosto de viver em um planeta entre baleias e lobos, mas não escondo que a alegria é maior quando escuto o choro de um bebê recém-nascido, pois ele tem som de esperança.

Padre José Ruy Corrêa Júnior