Em quarentena.
Nestes dias o
despertador não tem tocado. Levanto-me antes do horário. Não deixo esse esboço
de sepulcro me horizontalizar nem mais um minuto! Nunca gostei muito de chá de
cama pela manhã.
O passo entra gasto no
banho e sai novo e cantando. Em geral são as 7h quando isso acontece. Quarto
arrumado... hora de subir ao altar.
Primeiro, a oração das
horas e, logo, arrumo o altar para a celebração.
Na sacristia estão os
bilhetes: intenções, sétimos dias, santos, intenções, o país, a Igreja,
pessoas, família, histórias, preocupações, preocupações, preocupações.
Como ensina o Evangelho: “a cada dia basta o seu cuidado”.
Agora devo cuidar somente d’Aquele que cuida de mim.
Como olhar para Ele e não enxergar uma multidão em seu Sagrado Coração? Não sei.
Tenho nomes, histórias, coisas que não sei, coisas que mal sei, coisas que sei mal. Levo todos comigo. Não subirei sozinho. Nunca subi sozinho ao altar.
Como ensina o Evangelho: “a cada dia basta o seu cuidado”.
Agora devo cuidar somente d’Aquele que cuida de mim.
Como olhar para Ele e não enxergar uma multidão em seu Sagrado Coração? Não sei.
Tenho nomes, histórias, coisas que não sei, coisas que mal sei, coisas que sei mal. Levo todos comigo. Não subirei sozinho. Nunca subi sozinho ao altar.
Enquanto me revisto,
me reviso:
“- Perdão, Senhor, pequei”.
“- Como sou feliz por mais uma Santa Missa!”
“- Ajudai-me, Jesus, meu amigo”.
“- Perdão, Senhor, pequei”.
“- Como sou feliz por mais uma Santa Missa!”
“- Ajudai-me, Jesus, meu amigo”.
“- SEMPRE”.
Os bancos da capela
são poucos e estão todos vazios. Ainda bem que o isolamento social não chegou à
sociedade da comunhão dos santos. Lembrei de uma história que ouvi há muito tempo:
As igrejas são altas para que não falte lugar aos anjos.
“- Meu anjo da guarda, doce companhia, não me faltes nunca, nem de noite, nem de dia”.
“- Meu anjo da guarda, doce companhia, não me faltes nunca, nem de noite, nem de dia”.
Duas fileiras de bancos
formam um corredor curto. Ouço os meus próprios passos que ecoam. Outra vez
penso que estou só:
“- Venha a fé, por suplemento, os sentidos completar!”
“- Venha a fé, por suplemento, os sentidos completar!”
Olho para o altar e me
emociono. Ali está o Solitário solidário. Meu amor de braços abertos, entre o céu
e a terra... só.
“- Em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo”.
Eco e silêncio.
Quem disse que o amor é sempre doce, errou. Ele é sempre quente. Nem tudo que é vivo é doce.
Eco e silêncio.
Quem disse que o amor é sempre doce, errou. Ele é sempre quente. Nem tudo que é vivo é doce.
Peço perdão com a alma
naquela cruz e já não estou sozinho. A partir de agora, tudo é companhia: as
leituras, o salmo, a meditação, as preces. Esta é a parte da missa que sempre
foi mais pública. Também as preces têm seu caráter universal, mas o silêncio do
ofertório me faz sentir outra vez um eco na alma. Neste espaço vazio, sinto
como se estivesse entre o céu e a terra... só.
Comparecem o pão e o
vinho, e começa o memorial. As oblatas são mudas. Nós lhes damos voz:
“- Fruto da terra e do trabalho”. “- Fruto da videira e do trabalho”. “- Bendito seja o Senhor para sempre”.
“- Fruto da terra e do trabalho”. “- Fruto da videira e do trabalho”. “- Bendito seja o Senhor para sempre”.
E a água? Tão humilde
e tão generosa, ela limpa as mãos deste pobre pecador.
Recito um canto e a
alma solfeja cada uma das palavras.
Chegamos às letras maiúsculas: “Tomai todos e comei!”. “Tomai todos e bebei”.
É maiúsculo o momento. Eu Te olho:
"- Estás vivo!"
Tu me olhas e não há dúvida. Graças a Deus!
“- Como sou feliz por mais uma Santa Missa! Viestes para todos, mas não todos estão aqui”.
Chegamos às letras maiúsculas: “Tomai todos e comei!”. “Tomai todos e bebei”.
É maiúsculo o momento. Eu Te olho:
"- Estás vivo!"
Tu me olhas e não há dúvida. Graças a Deus!
“- Como sou feliz por mais uma Santa Missa! Viestes para todos, mas não todos estão aqui”.
“- SEMPRE”.
O Sangue molha o Corpo.
“Olharão para aquele que traspassaram e baterão no peito, como em dolo pelo filho
único”.
“- Senhor, que esta comunhão
não seja para mim causa de juízo e condenação, mas, por vossa bondade, seja
sustento e remédio para a minha vida”.
A Missa sempre será uma
festa e um drama. Ainda que a mesa esteja repleta, sempre há um lugar vazio: Muitos
os convidados... poucos os comensais.
É o mesmo drama desde a primeira missa. O Senhor sempre o viu. Eu, no entanto, nem sempre o vi. Como estou longe de ter os mesmos sentimentos de Cristo!
É o mesmo drama desde a primeira missa. O Senhor sempre o viu. Eu, no entanto, nem sempre o vi. Como estou longe de ter os mesmos sentimentos de Cristo!
Limpo a patena e vejo
que reflete luz. Alguns arranhões. Tomo cuidado ao recolocar o cálice.
Silêncio.
Silêncio.
“- Oremos!”
“- Deus eterno e
todo-poderoso, que, pela ressurreição de Cristo, nos renovais para a vida
eterna, fazei frutificar em nós o sacramento pascal e infundi em nossos
corações a fortaleza desse alimento salutar. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”
“- Que esta benção
chegue a todos os que mais a necessitam!”
Confesso que é um
alongamento cardíaco celebrar a Santa Missa. É como se o coração criasse mil
braços e tentasse alcançar sempre mais longe, sempre mais longe, sempre mais longe.
Dou um beijo sobre o
linho do altar e instintivamente começo a cantarolar: “- Maria de Nazaré. Maria
me cativou. Fez mais forte a minha fé e por filho me adotou”.
Tudo pronto. Tudo
guardado.
Agora preciso esperar
uns minutos para que a alma se acomode e seja capaz de agradecer.
“- Ajudai-me, Jesus, meu amigo.
“- Ajudai-me, Jesus, meu amigo.
- Senhor, eu fiz o
que me mandastes. Sou um servo inútil. E ainda assim me convidais para esta santa ceia”.
“- SEMPRE”.