quinta-feira, 11 de junho de 2020


Há críticas que soam a elogio


   Outro dia vi uma matéria sobre a publicação de uma nova biografia de são João Paulo II. Como ele foi inegavelmente uma das maiores personalidades do século XX e um grande sacerdote, reconhecido como santo tanto em sentido institucional como comunitário, resolvi ler a reportagem.

   Trata-se de uma matéria de um site de notícias que se identifica como “católico independente”, o que entendi como “não institucional”, pois de outro modo seria uma contradição entre termos. Afinal, se todo ser vivo neste planeta está em um sistema de dependências, e até o super poderoso coronavírus depende de um outro organismo em uma relação de vida ou morte, muito mais alguém que ostenta um título deve entender-se dependente sob pena de ser ou uma farsa maldosa, ou um lamentável autoengano, ou um simples equívoco.

   O título do livro comentado é Jean-Paul II, l’ombre du saint (João Paulo II, a sombra do santo). Entre as críticas da biografia citadas textualmente pela matéria está: “no rearmamento doutrinal que o papa estava realizando, não havia espaço para dúvidas. As verdades do catecismo foram reafirmadas com firmeza. A moralidade, especialmente aquela referente à afetividade e à sexualidade, foi restabelecida com firmeza. E não houve a necessidade de repensar os sacramentos em nome da missão”, e entre os ataques pessoais: “Eis ele aqui, brincando de Cristo, ascendendo, pouco a pouco, ao Gólgota” e “quando um papa, sobrecarregado de doenças, não se queixa, quem poderá dizer que a missão é demasiado pesada, que o sacrifício é demasiado grande?”.

Vi Satanás cair do céu como um raio” | Papa joão paulo segundo ...   Preciso confessar que fiquei edificado. Realmente a um homem se aquilata não somente pelas causas que defende, mas também pelos inimigos que angaria. Há críticas que soam a elogio: “rearmamento doutrinal”, “verdades do catecismo”, “moralidade”, “um papa sobrecarregado de doenças que não se queixa”.

   Apesar da invejável firmeza na fé dos autores, que sobreviveu a 26 anos do pontificado de são João Paulo II, pelo que concluo provavelmente não foi tão ruim assim, creio que não lerei o livro anunciado. 

   Mesmo que venham outras quarentenas compulsórias, já aprendi que não sou capaz de ler tudo e, no que diz respeito aos santos, prefiro suas numerosas luzes às suas sombras, que sem dúvida existiram.

   Ainda que... pensando melhor, talvez eu o leia e redescubra, sob outra ótica, este gigante polaco que fez do seu corpo uma cruz e da sua história, uma pedra de toque permanente para consciências.

Vídeo recomendado: https://www.youtube.com/watch?v=l7Voz3aV2dM

PD. À propósito, muitas das críticas acima aludidas não foram "falhas", mas metas planejadas, como disse o santo em sua primeira radiomensagem. Metas às quais aprouve a Deus dar bom término. Bendito seja Deus!

"Veneráveis Irmãos e Filhos caríssimos, é óbvio que a fidelidade significa também adesão convicta ao Magistério de Pedro especialmente no campo doutrinal, cuja importância objectiva não só deve sempre ser tida em vista, mas também ser defendida por causa das insídias que, de várias partes, se levantam hoje contra certas verdades da fé católica. Fidelidade significa também respeito pelas normas litúrgicas, vindas da Autoridade eclesiástica, e exclui portanto quer os arbítrios de inovações injustificadas quer as rejeições obstinadas do que foi legitimamente previsto e introduzido nos sagrados ritos. Fidelidade significa ainda observância da grande disciplina da Igreja, e também isto - como recordareis — foi indicado pelo Nosso Predecessor. A disciplina, de facto, não tende a suprimir o que é bom, mas a garantir a justa ordem própria do corpo místico, como a garantir a regular e fisiológica articulação entre todos os membros que o formam. Fidelidade significa ainda correspondência generosa às exigências da vocação sacerdotal e religiosa, de maneira que tudo o que livremente se prometeu a Deus seja mantido sempre e seja desenvolvido numa perspectiva sobrenatural estável". (17/10/1978)

domingo, 7 de junho de 2020


Pensamentos de Pascal




«O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmaga-lo: um vapor, uma gota de água bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. Daí que é preciso nos elevarmos, e não do espaço e da duração, que não podemos preencher. Trabalhemos, pois, para bem pensar; eis o princípio da moral».

«Caniço pensante – Não é no espaço que devo buscar minha dignidade, mas na ordenação de meu pensamento. Não terei mais, possuindo terras; pelo espaço, o universo me abarca e traga como um porto; pelo pensamento, eu o abarco»

- PASCAL, Blaise (1670) Pensées, VI, §347 e §348.