“Porque o coração deste povo se tornou insensível”. (Mt 13, 15)
A
Liturgia da Palavra de hoje é bem incisiva e profética. A leitura do profeta
Jeremias diz: “Vai e grita aos ouvidos de Jerusalém. (...) Dois pecados cometeu
meu povo: abandonou-me a mim, fonte de água viva, e preferiu cavar cisternas,
cisternas defeituosas que não podem reter água”. E, no Evangelho, é o Senhor Jesus
quem alerta, usando palavras do profeta Isaías: “Porque o coração deste povo se
tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não
ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de
modo que se convertam e eu os cure”.
A
luz da graça passa pela abertura do nosso coração. E o coração pode tornar-se insensível
e fechado. Por tanto, não adianta querer ser de Deus sem, antes, curar sua insensibilidade.
Seria como querer refrescar-se sem tirar o casaco, ou tomar banho usando
capa de chuva.
O
excesso de comer, a embriaguez e as preocupações da vida (Cfr. Lc 21, 34),
assim como a luxúria e a imoralidade (Cfr. 1Pe 4, 3) e todo tipo de maldade,
desonestidade e injustiça (Cfr. Mc 7, 21-23) tornam o coração do homem
insensível. O pecado não só tem efeitos para fora, mas também transforma interiormente
o pecador. O pecado embrutece e insensibiliza o coração. Voltemos a Deus de
todo o coração e Ele se voltará para nós!
Catecismo:
“O pecado arrasta ao pecado;
gera o vício,
pela repetição dos mesmos atos.
De aí resultam as inclinações perversas, que
obscurecem a consciência e corrompem a apreciação concreta do bem e do mal.
Assim, o pecado tende a reproduzir-se e reforçar-se, embora não possa destruir
radicalmente o sentido moral”. (n. 1865)
Papa
Francisco: “Para se poder apoiar
um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal
egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar
conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já
não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar
deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe.
A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o
mercado oferece
algo que ainda não compramos,
enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um
mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma”. (EG 54)