Virgindade e
celibato: por uma sexualidade pascal
CENCINI, Amedeo. São Paulo: Paulinas, 2012, 3a edição.
3. Sexualidade:
mistério e vocação
“A sexualidade é como
que a matéria prima de tal escolha (opção virginal). A virgindade é um modo
preciso de viver a própria realidade sexual, não um álibi para negá-la ou contorna-la”.
(p. 59)
“A ideia de sexualidade
evoca, no imaginário coletivo, a ideia de uma força improgramada e improgramável, livre e solta de qualquer norma
e ligame, criativa e completamente sugestiva. Na realidade, a sexualidade tem
um fisionomia precisa. Então, possui também suas leis e como que um códice
interno (uma ordem), que consente
tender para um fim exato, mas ao longo de um percurso de formação em que cada
um é responsável e livre para aderir. Uma autêntica sexualidade é conjuntamente
energia espontânea e ordenada”. (p. 60-61)
“A sexualidade suscita
a consciência do limite e da radical pobreza humana. É isso que permite
sentir a necessidade do outro e faz reconhecer o dom já recebido, mas,
juntamente, é riqueza de energia, que
capacita a pessoa a encontrar o outro, no pleno respeito da diversidade, e a
fazer-lhe dom de si”. (p. 61)
Origem: Dom divino
“É importante
reforçar a origem divina da sexualidade. Não porque existam dúvidas na teoria,
mas para reagir contra certa tendência depreciativa ou não suficientemente
capaz de suscitar estima com relação a ela”. (p. 62)
“Nós nos cremos
emancipados a este respeito (sexual), mas estamos longe do sentido teológico da
sexualidade tão evidente ao antigo fiel”. (p. 63)
Características: centralidade e invasão
“Na geografia do
nosso mundo interior, a sexualidade ocupa exatamente um lugar central, que a coloca em relação com todas as outras áreas da
nossa personalidade. Centralidade tal que estas duas singulares situações se
poderão criar: conflito sexual com raízes não sexuais e conflito não sexual com
raízes sexuais”. (p. 63s)
“De um lado, então,
a sexualidade faz as vezes de caixa de ressonância dos problemas pessoais
surgidos em outras partes; de outro, ela se esconde, camuflando-se sob falsas
aparências: esconde e se esconde, é
invadida e invade. Justamente por isso, a sexualidade é como um termômetro que mede a maturidade geral
da pessoa; indica eventualmente a febre, mesmo se nem sempre lhe determina a
origem”. (p. 64)
Componentes: do genital ao espiritual
“ ‘O sexo procede
da alma que o exprime’, recebe, então, sentido a partir do coração pensante,
mas segundo uma preexistente ordo
sexualitatis. E, se de um lado ‘a carne é floração do espírito’, o carnal,
por sua vez, pode e deve encontrar a própria função de sacramento do espiritual,
le lugar onde aquela ordo é
reconhecível, talvez o seu principal sinal”. (p. 68)
“Tentação não será
tanto somente a atração pelo outro sexo (em si natural), quanto toda visão
redutiva e negativa, banal e superficial, pobre e temerosa da sexualidade que,
em virtude da preocupação com a própria (má entendida) perfeição, corre o risco
de não apreender e desfrutar todo o patrimônio de energia aí contido, tonando
estéril, isto é, falsa, a própria virgindade”. (p. 69)
“A sexualidade é
mística e ascética, dom de graça que exige o cansaço e a renúncia dos sentidos
para atingir a alegre liberdade do amor fecundo”. (p. 70)
Funções e valores: o dom criador
“A diferença entre
os sexos é e indica a diversidade radical, o símbolo por excelência das
diferenças, quase a escola para aprender
a respeitar e valorizar o ‘tu’, qualquer ‘tu’, na sua diversidade e
apreciá-lo na sua inconfundível beleza”. (p. 71)
Poesia Virgem
“Tu, meu tudo,
minha vida.
Sem ti tudo não
seria
Senão pó
espezinhado
Por cansados pés
ignaros”.