quarta-feira, 2 de novembro de 2016




Virgindade e celibato: por uma sexualidade pascal
CENCINI, Amedeo. São Paulo: Paulinas, 2012, 3a edição.

3.     Sexualidade: mistério e vocação
“A sexualidade é como que a matéria prima de tal escolha (opção virginal). A virgindade é um modo preciso de viver a própria realidade sexual, não um álibi para negá-la ou contorna-la”. (p. 59)

“A ideia de sexualidade evoca, no imaginário coletivo, a ideia de uma força improgramada e improgramável, livre e solta de qualquer norma e ligame, criativa e completamente sugestiva. Na realidade, a sexualidade tem um fisionomia precisa. Então, possui também suas leis e como que um códice interno (uma ordem), que consente tender para um fim exato, mas ao longo de um percurso de formação em que cada um é responsável e livre para aderir. Uma autêntica sexualidade é conjuntamente energia espontânea e ordenada”. (p. 60-61)

“A sexualidade suscita a consciência do limite e da radical pobreza humana. É isso que permite sentir a necessidade do outro e faz reconhecer o dom já recebido, mas, juntamente, é riqueza de energia, que capacita a pessoa a encontrar o outro, no pleno respeito da diversidade, e a fazer-lhe dom de si”. (p. 61)

Origem: Dom divino
“É importante reforçar a origem divina da sexualidade. Não porque existam dúvidas na teoria, mas para reagir contra certa tendência depreciativa ou não suficientemente capaz de suscitar estima com relação a ela”. (p. 62)

“Nós nos cremos emancipados a este respeito (sexual), mas estamos longe do sentido teológico da sexualidade tão evidente ao antigo fiel”. (p. 63)

Características: centralidade e invasão
“Na geografia do nosso mundo interior, a sexualidade ocupa exatamente um lugar central, que a coloca em relação com todas as outras áreas da nossa personalidade. Centralidade tal que estas duas singulares situações se poderão criar: conflito sexual com raízes não sexuais e conflito não sexual com raízes sexuais”. (p. 63s)

“De um lado, então, a sexualidade faz as vezes de caixa de ressonância dos problemas pessoais surgidos em outras partes; de outro, ela se esconde, camuflando-se sob falsas aparências: esconde e se esconde, é invadida e invade. Justamente por isso, a sexualidade é como um termômetro que mede a maturidade geral da pessoa; indica eventualmente a febre, mesmo se nem sempre lhe determina a origem”. (p. 64)

Componentes: do genital ao espiritual
“ ‘O sexo procede da alma que o exprime’, recebe, então, sentido a partir do coração pensante, mas segundo uma preexistente ordo sexualitatis. E, se de um lado ‘a carne é floração do espírito’, o carnal, por sua vez, pode e deve encontrar a própria função de sacramento do espiritual, le lugar onde aquela ordo é reconhecível, talvez o seu principal sinal”. (p. 68)

“Tentação não será tanto somente a atração pelo outro sexo (em si natural), quanto toda visão redutiva e negativa, banal e superficial, pobre e temerosa da sexualidade que, em virtude da preocupação com a própria (má entendida) perfeição, corre o risco de não apreender e desfrutar todo o patrimônio de energia aí contido, tonando estéril, isto é, falsa, a própria virgindade”. (p. 69)

“A sexualidade é mística e ascética, dom de graça que exige o cansaço e a renúncia dos sentidos para atingir a alegre liberdade do amor fecundo”. (p. 70)

Funções e valores: o dom criador
“A diferença entre os sexos é e indica a diversidade radical, o símbolo por excelência das diferenças, quase a escola para aprender a respeitar e valorizar o ‘tu’, qualquer ‘tu’, na sua diversidade e apreciá-lo na sua inconfundível beleza”. (p. 71)

Poesia Virgem
“Tu, meu tudo, minha vida.
Sem ti tudo não seria
Senão pó espezinhado

Por cansados pés ignaros”. 


Algumas frases de Santo Tomás de Aquino sobre a caridade.
Questões disputadas: Questões disputadas sobre as virtudes, Questão 2

Artigo 4: Se a caridade é uma só virtude.

Argumenta
“Os hábitos se distinguem pelos atos, e os atos pelos objetos”.

“Os preceitos da lei se ordenam às virtudes, porque a intenção do legislador é tornar os homens virtuosos, como se diz no livro II da Ética”.

“A amizade perfeita não se dá a muitos”.

Respondeo
“É evidente que podemos amar alguém de dois modos: de um modo, por razão de si mesmo; de outro modo, por razão de outro. (...) A caridade ama a Deus por razão de si mesmo; e, por causa dele, ama todos os outros, enquanto se ordenam a Deus”.

Responsiones ad argumenta
“A caridade visa, como objeto principal, o bem divino, que pertence a cada um segundo possa ser partícipe da beatitude. Assim, só amamos pela caridade àqueles que possam participar conosco da beatitude, como diz Agostinho no livro Sobre a doutrina cristã”.


“Não se ama uma coisa porque se conhece, mas porque é boa. Por isso, o maior bem será o mais amável, ainda que não seja o mais conhecido”.


Dinâmicas da História do Mundo
Dawson, Christopher. São Paulo: É Realizações, 2010, 1a edição.

As fontes de mudança cultural

“O que é uma cultura? É um modo de vida comum – um ajuste particular do homem em relação ao seu meio natural e às suas necessidades econômicas. Em seu uso e transformações ela se assemelha ao desenvolvimento de uma espécie biológica, a qual, como o dr. Regan salientou em seu discurso para a Associação Britânica em 1925, se refere basicamente não a uma mudança em sua estrutura, mas formação de uma comunidade, seja por novos hábitos, seja pela adaptação a um novo e restrito ambiente. (...) Quanto mais baixa umacultura for, mais passiva ela será em relação ao meio que a envolve. Um alta cultura, todavia, irá se expressar, através de seu meio, de forma magistral e excepcional, como faz o artista utilizando o meio que seu material permite”. (p. 68-69)

“Um modo de vida particular, em um meio ambiente particular, produz um tipo humano especializado, caso o processo ocorra em um período longo o bastante”. (p. 70)

“A cultura não pode ser vista como simples resultado de um determinismo climático ou econômico, pois é, na realidade, uma obra de arte, um triunfo da inventividade e da resistência humanas; é, também, fruto de uma tradição cultural muito antiga, a qual pode se estender muito para trás no tempo e no espaço, até as profundezas da era glacial das culturas do período magdaleniano europeu”. (p. 71)

O autor não trata do “progresso cultural” como um movimente uniforme ou retilíneo. Distingue 5 tipos principais de:
1. Caso simples: onde os povos desenvolvem seu modo de vida em seu meio ambiente, sem intromissões humanas externas;
2. Readaptação: quando, ainda dentro dos moldes do caso anterior, um determinado povo muda-se de seu meio ambiente original e precisa, assim, readaptar sua cultura.
3. Mistura de povos: geralmente pelo processo de conquista, raramente por contato pacífico, povos se misturam. Sem dúvida, é o processo mais importante no estudo histórico. 1º há um período de vários séculos de crescimento silencioso, seja por força da cultura que trouxe consigo ou que encontrou, os povos desenvolvem suas potencialidades; 2º Logo surge um período de intensa atividade cultural e também de intensos conflitos. A partir daí a cultura atinge maturidade e equilíbrio.
4. Interdependência: quando um povo absorve conquistas culturais de outros povos, tornando-as suas.

5. Transformação: quando um povo muda sua cultura a partir da razão. Seja por conhecimentos adquiridos, seja por novas crenças religiosas.


Dinâmicas da História do Mundo
Dawson, Christopher. São Paulo: É Realizações, 2010, 1a edição.

Prefácio à edição de 1978 (John J. Mulloy)

“O problema da sobrevivência social não é apenas um problema de ordem política e econômica, pois é, acima de tudo, um problema de ordem espiritual, uma vez que é na religião que encontramos as mais significativas fundações espirituais que constituem, simultaneamente, a sociedade e o indivíduo”. (MULLOY, John. In: Op. Cit., p. 45)

“ Como resposta à visão de Tylor de que o homem é incapaz de conceber o transcendente a não ser na forma muito limitada do animismo, Dawson afirma que ‘A fundação elementar da religião primitiva não é a crença em espíritos ou seres míticos, mas está ligada a uma obscura e confusa intuição do ser transcendente – um oceano de energia espiritual”. (Idem, p. 48)

“Contra o posicionamento de Durkheim, que interpreta o fenômeno religioso como, essencialmente, a adoração do próprio grupo e dos laços que o mantém coeso, Dawson afirmam que a orientação da religião primitiva não é, em última análise, direcionada para dentro do grupo, mas para fora, para o mundo da realidade espiritual”. (Idem, p. 49)

“Os meios pelos quais essa consciência do Transcendente é mantida viva numa cultura são fornecidos pela profecia e pelo misticismo. Uma religião se torna mero ativismo social, faltando-lhe vitalidade, sempre que estes canais de comunicação como o reino do sobrenatural são cortados ou negligenciados. É aqui que os papeis do homem santo e dos verdadeiros profetas se tornam tão importantes para a vida religiosa de uma sociedade”. (Idem, p. 50)

“Quando os profetas estão calados e a sociedade não mais possui quaisquer canais de comunicação com o mundo divino, o caminho para as profundezas permanece aberto e os frustrados poderes espirituais dos homens encontrarão vazão na vontade ilimitada de destruição e poder”. (Idem, p. 52)


“É apenas ao aceitarmos o ponto de vista religioso, ao considerarmos a religião como um fim em si mesma e não como um meio para se atingir outras coisas, que podemos discutir os problemas religiosos de maneira eficiente”. (Idem, p. 52)


Indulgências referentes às piedosas orações em favor dos fiéis defuntos


De 1 a 8 de novembro (visita ao cemitério)
“Ao fiel que visitar devotamente um cemitério e rezar, mesmo em espírito, pelos defuntos, concede-se indulgência aplicável somente às almas do purgatório. Esta indulgência será plenária, cada dia, de 1 a 8 de novembro” (Manual das Indulgências, n. 13).

Dia 2 de novembro (visita a uma Igreja)
“Concede-se indulgência plenária, aplicável somente às almas do purgatório, aos fiéis que no dia da comemoração de todos os fiéis defuntos visitarem piedosamente uma igreja ou oratório. Na piedosa visita, ‘se recitam a oração dominical e o símbolo dos apóstolos: Pai-nosso e Creio'” (Manual das Indulgências, n. 67).

Qualquer dia do ano
“Concede-se indulgência parcial ao fiel que devotamente recitar laudes ou vésperas do ofício dos defuntos”. (manual das Indulgências, n. 18)



CONDIÇÕES PARA LUCRAR A INDULGÊNCIA
Além de cumprir a obra prescrita pela Igreja, o fiel deve:
1. Estar em graça de Deus (sem nenhum pecado grave) e com nenhum afeto de pecado, ou seja, em grandíssimo arrependimento.
2. Receber a Santa Comunhão (para cada indulgência).
3. Rezar qualquer oração pela pessoa e intenções do Papa.
V./ Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno.
R./ E brilhe para eles a Vossa luz.
V./ Que as almas de todos os fiéis defuntos, pela infinita misericórdia de Deus, descansem em paz.
R./ Amém.




Algumas normas a serem observadas (Cfr. Manual de indulgências):

1. Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos.
2. A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberta, em parte ou no todo, da pena temporal devida pelos pecados.
3. Ninguém pode lucrar indulgências a favor de outras pessoas vivas.
4. Qualquer fiel pode lucrar indulgências parciais ou plenárias para si mesmo ou aplicá-las aos defuntos como sufrágio.
5. O fiel que, ao menos com o coração contrito, faz uma obra enriquecida de indulgência parcial, com o auxílio da Igreja, alcança o perdão da pena temporal, em valor correspondente ao que ele próprio já ganha com sua ação.
...

17. Para ganhar a indulgência anexa a algum dia, se é exigida visita à igreja ou oratório, esta pode fazer-se desde o meio-dia precedente até a meia-noite do dia determinado.
...

22. A obra prescrita para alcançar a indulgência plenária, anexa à igreja ou oratório, é a visita aos mesmos: neles se recitam a oração dominical e o símbolo aos apóstolos (Pai-nosso e Creio), a não ser caso especial em que se marque outra coisa.
23. Parágrafo 1. Para lucrar a indulgência plenária, além da repulsa de todo o afeto a qualquer pecado até venial, requerem-se a execução da obra enriquecida da indulgência e o cumprimento das três condições seguintes: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice.
Parágrafo 2. Com uma só confissão podem ganhar-se várias indulgências, mas com uma só comunhão e uma só oração alcança-se uma só indulgência plenária.
Parágrafo 3. As três condições podem cumprir-se em vários dias, antes ou depois da execução da obra prescrita; convém, contudo, que tal comunhão e tal oração se pratiquem no próprio dia da obra prescrita.
Parágrafo 4. Se falta a devida disposição ou se a obra prescrita e as três condições não se cumprem, a indulgência será só parcial, salvo o que se prescreve nos nn. 27 e 28 em favor dos "impedidos".
Parágrafo 5. A condição de rezar nas intenções do Sumo Pontífice se cumpre ao se recitar nessas intenções um Pai-nosso e uma Ave-Maria, mas podem os fiéis acrescentar outras orações conforme sua piedade e devoção.
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segunda-feira, 31 de outubro de 2016


Dinâmicas da História do Mundo

Dawson, Christopher. São Paulo: É Realizações, 2010, 1a edição.

Introdução (Dermot Quinn)


“A integridade e a autonomia da experiência religiosa do homem são um fato, não uma artificialidade filosófica ou teológica”. (QUINN, Dermot. In: Op. Cit., p. 21)

“Terá sido o principal erro de Dawson, o de se ter deslocado para muito longe da sólida tradição empírica da historiografia britânica e para muito perto da ‘meta-história’ continental? Todavia, foi certamente Dawson, em pessoa, quem representou uma via média. Escrupulosamente atento ao detalhe, ele sabia que o detalhe, por si só, não constituía a história mais do que aleatórias notas musicais constituem o sistema harmôinico. ‘Meta-história’, aquela arquitetura de significado ampliado, através da qual os fatos históricos se tronam inteligíveis, mas, para ele, inevitável”. (Idem, p. 23)

“Todo historiador tem suma ‘meta-história’, ele reconhecia, mas apenas os melhores sabem disso”. (Idem, p. 23)

“Nenhum historiador que afirme ter seu interesse direcionado única e exclusivamente para o passado precisa ser levado seriamente, como se tamanha afirmação não precisasse de justificativas. Descartar uma filosofia da história é fazer filosofia da história, mesmo que de forma insuficiente”. (Idem, p. 25)

“Seria difícil oferecer uma descrição melhor de secularismo que ‘emoção religiosa divorciada de crença religiosa’”. (Idem, p. 32)

“Hoje em dia, a mente secular se fixa no que é puramente pessoal, subtraindo-se do social. Sua preocupações são curiosamente privadas: culto ao corpo, autenticidade, licenciosidade sexual, a Nova Era com toda a sua puerilidade mística. O secularismo se transformou na numinosidade do narcisista. O homem pós-moderno eleva um ostensório e vê em seu centro um espelho”. (Idem, 32)

“O homem urbano, desenraizado e sem vida espiritual, se esqueceu das fontes de sua vitalidade moral: a família, a região, o barro local”. (Idem, p. 33)

“‘A essência da história não se encontra nos fatos, mas nas tradições. O fato puro não é histórico. Ele apenas se torna histórico ao ser relacionado com uma tradição social, de forma que possa ser visto como parte integrante de um todo orgânico’ (...). O fato não conta a história; a história, como se deu, conta o fato. É a história que confere padrão e significado. É no fato que falta significado próprio. Além disso, organizar material desordenado, dando a ele forma narrativa, não é diminuir a particularidade histórica, mas reconhecê-la. Ver o significado para além do local é vê-lo no local”. (Idem, p. 39-40)

“O paradoxo que permeia toda a obra de Dawson é esse senso agostiniano do passado como concomitantemente preso ao tempo e destituído dele; como ação humanamente completa e ainda assim se esforçando em direção a uma finalização mais completa, em direção a uma realização além do tempo”. (Idem, 41)

“Ao participarmos da história, participamos em Cristo, que entrou na História e é seu Senhor. Ele é o momento a partir do qual todos os outros derivam seu significado. Ele é a norma a partir da qual todas as outras são constituídas. Cristo entrou na História. Ele ainda a penetra. Ele é a História (...), não simplesmente porque é o Cristo, mas porque Ele é histórico. A historicidade – o real, o concreto, o particular – não é obliterada, mas é, Nele, dotada de novo significado. (...) A história busca realização em Cristo, o qual a penetrou e a fez inteira. Assim, no final dos tempos seu significado mais profundo será conhecido”. (Idem, p. 43-44)