sábado, 16 de janeiro de 2016

“Por que Jesus come e bebe junto com cobradores de impostos e pecadores?”. (Mc 2, 16)


A pergunta dos fariseus revela uma inquietação que, como um vírus, sobrevive no coração humano. Quantas vezes já ouvi: “Não vou a Igreja porque ali tais reparam em quais” ou “porque muitos se negam a paz de Cristo”. Por um segundo, como bom cristão, reconheço meus pecados e coro de vergonha, mas confesso que logo recobro o juízo.

Afinal, quem não tem pecados, atire a primeira pedra! Jesus não veio para os justos, mas para os pecadores. Tenho absoluta certeza de que no céu, onde espero entrar pela infinita misericórdia de Deus, teremos muitos e agradáveis reencontros. E peço a Deus que não sintamos a falta de nenhum conhecido. Nenhum!

Nossa alegria não pode de assemelhar à do mesquinho, que contempla satisfeito os que não puderam entrar na festa. No céu, todos serão como esfarrapados usando um traje emprestado do Rei. Pensando bem, digo aliviado: Ainda bem que Jesus come e bebe com pecadores em todas as Santas Eucaristias! Sinto dó dos que se acham “bons demais” para entrar na Igreja, e partir o pão com os pecadores.

Catecismo 545: “Jesus convida os pecadores para a mesa do Reino: ‘Eu não vim chamar os justos, mas o pecadores’ (Mc 2, 17). Convida-os à conversão sema qual não se pode entrar no Reino, mas por palavras e atos, mostra-lhes a misericórdia sem limites do Pai para com eles e a imensa ‘alegria que haverá no céu, por um só pecador que se arrependa’ (Lc 15, 7). A prova suprema deste amor será o sacrifício da sua própria vida, ‘pela remissão dos pecados’ (Mt 26, 28)”.

Francisco: “A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia”. (EG, 47)


São Bento: “Espera o Senhor todos os dias que nos empenhemos em responder com atos às suas santas exortações. Por essa razão, os dias desta vida nos são prolongados como tréguas para a emenda dos nossos vícios, conforme diz o Apóstolo: ‘Então ignoras que a paciência de Deus te conduz à penitência?’. Pois diz o bom Senhor: ‘Não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva’”. (Prólogo da Regra, 35-38)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

“Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os seus pecados estão perdoados’”. (Mc 2, 5)


Quatro amigos levaram um paralítico até Jesus, precisaram passá-lo pelo teto de uma casa e, por sua fé, ganharam a atenção do Senhor. Outro dia, um jovem me perguntou: “o que é o mais importante em um discernimento vocacional?”. “São as ajudas”, eu respondi.

Talvez o principal trabalho da Pastoral Vocacional seja convencer o jovem de que ele não pode fazer um bom discernimento vocacional sozinho. No plano de Deus, ninguém chega a Jesus sozinho, precisamos da ajuda da Igreja, que é feita de irmãos. Logicamente houve um chamado divino e as inspirações do Espírito Santo encaminharam o(a) jovem para um discernimento mais profundo, mas, então, chega o momento da comunidade.

Em todas as coisas da vida de fé, é assim que Deus trabalha. Desde os primeiros personagens da Bíblia, Ele sempre se valeu de ajudas humanas. Quantos milagres maravilhosos contidos na Palavra de Deus! E todos realizados por uma mediação humana. O sacerdote é ordenado para ser mediador - in persona Christi - na pessoa de Cristo. Amemos e procuremos o sacerdote. E rezemos por ele.

Catecismo 1939: “O princípio da solidariedade, enunciado ainda sob o nome de ou ‘caridade social’, é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã: Um erro, ‘hoje amplamente difundido, é o esquecimento desta lei da solidariedade humana e da caridade, ditada e imposta tanto pela comunidade de origem e pela igualdade da natureza racional em todos os homens, seja qual for o povo a que pertençam, como também pelo sacrifício redentor oferecido por Jesus Cristo no altar da cruz a seu Pai celeste, em prol da humanidade pecadora’”.

Francisco: A proposta é viver a um nível superior, mas não com menor intensidade: ‘Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De facto, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais’” (EG, 10).

São Bento: “Tolerem pacientissimamente suas fraquezas, quer do corpo quer do caráter; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure aquilo que julga útil para si, mas, principalmente, o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna; temam a Deus com amor”. (Regra 72: Do bom zelo que os monges devem ter, 5-9)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

“Um leproso chegou perto de Jesus e pediu de joelhos: ‘Se queres, tu tens o poder de me purificar’”. (Mc 1, 40)


É muito fácil se aproximar de Jesus. Talvez, por isso, muitos não se aproximem... São os que procuram emoções, batalha, enfrentamento... Mal sabem estes que o Senhor nunca indica um caminho sereno, o caminho de Jesus é heroico: Vinde e vede!

A aproximação de um leproso era algo temível, mas Jesus o acolhe. Os fracos se sentem bem perto d’Ele. Ele não rejeita ninguém. Por isso é tão estranha a falta de acolhimento entre os cristãos. Quando surge uma situação assim é sinal de que há um problema, seja no coração dos crentes, seja no coração de quem chega.

Fico me perguntando como acolhemos os mais fracos. Aos idosos é proposta a eutanásia. Aos bebês não nascidos, o aborto. Aos imigrantes, os muros, a fome e o regresso. Aos cristãos perseguidos, o silêncio e a morte. Aos pobres, o mesmo. Li na Folha de São Paulo do último dia 10 um relato quase natural do aborto de um bebê com microcefalia. Ainda bem que Jesus não nos rejeita, mesmo que tenhamos cabeça e coração pequenos.

http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/01/1727899-alta-de-microcefalia-reacende-debate-sobre-aborto-legal.shtml?cmpid=facefolha

Catecismo 544: “O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino”.

Francisco: “De nada serve dizer: ‘Mas eu carrego uma medalha, eu trago um crucifixo’; como aqueles que levavam a Arca da Aliança, sem uma relação viva com Deus e com a Palavra de Deus. A Palavra de Deus está viva em nosso coração? Muda nossa vida, ou é como a Arca que vai e vem? Ou o ‘Livro do Evangelho’ é muito bonito, mas não entra no coração?”. (16/01/2014)

São Bento: “Cuide com toda solicitude dos enfermos, das crianças, dos hóspedes e dos pobres, sabendo, sem dúvida alguma, que deverá prestar contas de todos esses, no dia do juízo”. (Regra 31: Como deve ser o Celereiro do mosteiro, 9)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

“E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los”. (Mc 1, 31)


Como Jesus é simples! Parece ser que os gritos e as exaltações ante os milagres são para os estranhos, não cabem nas cenas mais íntimas do Evangelho. Realmente o “poder de Deus” não é medido em decibéis.

Em Cafarnaum, na casa de Simão, Jesus faz o primeiro milagre registrado no Evangelho segundo Marcos. Uma mulher, de cama e com febre, é curada milagrosamente e põe-se a servir.

Hoje, Jesus repete este milagre quando se aproxima de nossa debilidade, de nosso estado de prostração, nos levanta e nos ensina a servir. Se muitos cristãos demonstram escandalosamente que são indignos deste nome, muitos mais são sustentados pelas mãos de Jesus e lutam por viver a santidade.

O silêncio das vidas santas é mais eloquente que o barulho dos malfeitores, quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.

Catecismo 978: "No momento em que fazemos nossa primeira profissão de fé, recebendo o santo Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão completo que não nos resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado original, seja dos pecados cometidos por nossa própria vontade, nem nenhuma pena a sofrer para expiá-los. (...) Contudo, a graça do Batismo não livra ninguém de todas as fraquezas da natureza. Pelo contrário, ainda temos de combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de arrastar-nos para o mal".

Francisco: “A nossa tristeza e vergonha pelos pecados de alguns membros da Igreja, e pelos próprios, não devem fazer esquecer os inúmeros cristãos que dão a vida por amor: ajudam tantas pessoas seja a curar-se seja a morrer em paz em hospitais precários, acompanham as pessoas que caíram escravas de diversos vícios nos lugares mais pobres da Terra, prodigalizam-se na educação de crianças e jovens, cuidam de idosos abandonados por todos, procuram comunicar valores em ambientes hostis, e dedicam-se de muitas outras maneiras que mostram o imenso amor à humanidade, inspirado por Deus feito homem. Agradeço o belo exemplo que me dão tantos cristãos que oferecem a sua vida e o seu tempo com alegria”. (EG, 76)


São Bento: “É preciso preparar nossos corações e nossos corpos para militar na santa obediência dos preceitos; e em tudo aquilo que nossa natureza tiver menores possibilidades, roguemos ao Senhor que ordene a sua graça que nos preste auxílio”. (Prólogo da Regra, 40-41)

"E a fama de Jesus se espalhou por toda a parte, em toda redondeza". (Mc 1, 28)


Ainda hoje, em muitos ambientes, a maior motivação missionária parece ser "ensinar sobre Jesus", "levar o que os outros não têm", e isto não perderá o seu valor enquanto houver realidades tenebrosas e difíceis, onde impera a maldade do homem, o vício, a violência, o desamor...

Entretanto, o cristão é, em primeiro lugar, testemunha de uma experiência. Quero com isto dizer que a primeira "missão" do cristão é procurar bem viver a sua fé e aprofundar-se cada vez mais nela.

Assim, ser missionário é “viver Cristo” em todas as realidades da Terra: alguns serão chamados a transpor fronteiras, outros darão fruto onde Deus os fez nascer, mas a primeira motivação deve ser sempre viver a extraordinária experiência da vida nova do Cristão.

Catecismo 1693: “Cristo fez sempre aquilo que era do agrado do Pai. Viveu sempre em perfeita comunhão com Ele. De igual modo, os seus discípulos são convidados a viver sob o olhar do Pai, ‘que vê no segredo’ (Mt 6, 6), para se tornarem ‘perfeitos como o Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 47)”.

Francisco: “Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído»1. Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada”. (EG, 3)

São Bento: “Não querer ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente sê-lo para que como tal o tenham com mais fundamento”. (Regra 4:Quais são os instrumentos das boas obras, 62)