SEMINÁRIO DIOCESANO
DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Formação Humana para a Filosofia - 04/05/2016
Formação Humana para a Filosofia - 04/05/2016
O material que compartilhamos é fruto de uma reflexão comunitária dirigida no contexto de uma aula de formação humana. É possível que alguns termos precisem ser melhor esclarecidos e outros provavelmente são passíveis de contra-argumentos. Aceitamos todos os comentários e correções que enriqueçam a reflexão. Obrigado.
1. O
que há de negativo na sexualidade?
Muitas vezes a sexualidade é vista com “maus olhos”, mas, no entanto,
ela é a ponte que existe entre o “eu” e o “tu”. Ela é o modo de expressão de
nosso interior (modo de ser e sentir), leva-nos a um outro que nos completa e
plenifica. O que há de negativo na sexualidade é fruto de seu mau uso (por
ignorância ou incapacidade). Pois, a sexualidade que deveria ser uma ponte, pode
querer tomar o lugar de ponto final, ídolo sem rosto das ações humanas. Seu mau
uso cria no homem vícios que o levam a fechar-se cada vez mais em si mesmo e a
usar o outro de modo cada vez mais egoísta e violento.
2. Como
se controla uma energia incontrolável?
A energia sexual é muitas vezes qualificada de “incontrolável”. Na
verdade, todas as energias do universo tem uma fisionomia determinada, um
ritmo, uma ordem. Assim também a energia sexual. Mas isso não significa que ela
seja incontrolável. Para controlar a criação o homem precisa passar por dois
estágios, que coexistirão de modo criativo por toda a vida: o conhecimento
(pela experiência, pelo estudo e pelo conselho dos sábios) e o trabalho, que
cria soluções e estruturas para o fim desejado.
3. A
sexualidade leva ao outro pela via da pobreza.
Esta frase exige certa meditação. De fato, não há autossuficiência na
criação, todos os seres criados são dependentes de outros semelhantes e, por
isso, a pobreza de um ser vivo o levará sempre a procurar outro que o complete.
Isto acontece desde as estruturas biológicas mais básicas, até as mais
complexas relações pessoais. Assim, a pobreza ontológica não é um mal que
devemos superar, mas é uma constatação sobre nossa condição de criaturas, que
devemos amar e viver com equilíbrio. Não crescemos quando somos “independentes
do mundo”, mas quando sabemos nosso lugar, quando nos integramos ao Plano de
Deus e vivemos com gratidão os dons que recebemos todos os dias de todos os que
convivem conosco, contribuindo positivamente para o crescimento de todos em
Cristo. Na verdade, só em um ambiente de interação social o homem pode
descobrir-se, desenvolver-se e identificar-se.
4. Onde
está o amor na sexualidade?
O amor é a essência da sexualidade, pois caracteriza sua doação sadia.
Toda relação sadia é amorosa. Sem o amor não há relação fecunda, mas somente
jogo de interesses, desconfiança, egoísmo e fechamento em si mesmo.
5. O
que você entende por capacidade oblativa da sexualidade?
A sexualidade – modo sexuado de relacionamento com o outro, condição
primária de qualquer relação humana – é feita para a doação, para a oblação. A
verdadeira satisfação da sexualidade não está em reter o bem no indivíduo, mas
comunicá-lo. Isto pode parecer mais claro no relacionamento matrimonial, mas
para o consagrado oblação sexual ocupa, também, lugar de destaque. Pois sua
sexualidade deve ser entendida como oblação amorosa e total a Deus e ao pobre
de amor, feita como um ato consciente baseado na predileção e,
consequentemente, na renúncia.
6. Em
que âmbitos a sexualidade seria infecunda?
A sexualidade é a base de todas as relações humanas e, ao mesmo tempo,
é fecunda em novas formas de relação, visando o bem pessoal e comum.
Entretanto, quando perde seu foco original e deteriora-se em egoísmo e
violência, a sexualidade torna-se uma energia destrutiva, infecunda e geradora
de morte.
7. Sexualidade
e humildade.
A sexualidade bem vivida é, ao mesmo tempo, fruto e condição para o
domínio de si mesmo. O homem, quando não é escravo das próprias paixões, acaba
descobrindo, com a ajuda de Deus, seu verdadeiro lugar no universo. O homem que
busca a virtude da humildade pode olhar objetivamente suas limitações e sua
responsabilidade ante Deus, o próximo, si mesmo e a criação, não como um fardo,
mas como o caminho natural de seu crescimento como ser humano. Caminho tanto
mais desejado e luminoso, quanto maior é a humilde aceitação de si mesmo para
que possa crescer no amor.
8. “Para
muitos, melhor não estarem completamente livres de tentações; convém, ao
contrário, que sejam, amiúde, delas combatidos, a fim de que não confiem,
demasiadamente, em si mesmos, nem se exaltem com a soberba, nem tampouco
busquem com ânsia as consolações exteriores”[1].
Neste caso, a confiança demasiada em si mesmo é um mal, pois é uma
ilusão que leva homem a colocar-se temerariamente em ocasiões perigosas, das
quais, humanamente, não poderá fugir ou vencer sem uma especial intervenção
divina. Os mestres de espiritualidade veem nesta ignorância do homem sobre sua
real condição a principal arma do demônio, do mundo e da carne para desviá-lo
do bom caminho.
Para reflexão: ICor 13,1-13
1 Se eu falasse as línguas dos homens e as dos
anjos, mas não tivesse amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que
retine. 2 Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não
tivesse amor, eu nada seria. 3 Se eu gastasse todos os meus bens no sustento
dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse
amor, de nada me aproveitaria. 4 O amor é paciente, é benfazejo; não é
invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; 5não faz nada de
vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal
sofrido; 6não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. 7 Ele
desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. 8 O amor jamais acabará. As
profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. 9 Com
efeito, o nosso conhecimento é limitado, como também é limitado nosso
profetizar. 10 Mas, quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é
imperfeito. 11 Quando eu era criança, falava como criança, pensava como
criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era
próprio de criança. 12 Agora nós vemos num espelho, confusamente; mas, então,
veremos face a face. Agora, conheço apenas em parte, mas, então, conhecerei
completamente, como sou conhecido. 13 Atualmente permanecem estas três: a fé, a
esperança, o amor. Mas a maior delas é o amor.
[1]
Sæpe
meliores in existimatione hominum magis periclitati sunt propter nimiam suam
confidentiam. Unde multum
utilius est, ut non penitus tentationibus careant, sed sæpius impugnentur ne
nimium securi sint, ne forte in superbiam eleventur, ne etiam ad exteriores
consolationes licentius declinent. O, qui nunquam transitoriam lætitiam
quæreret, qui nunquam cum mundo se occuparet, quam bonam conscientiam servaret.
O, qui omnem vanam sollicitudinem amputaret, et duntaxat salutaria ac divina
cogitaret, et totam spem suam in Domino constitueret, quam magnam pacem et
quietem possideret. (Imitatio
Christi, I, 20, 4): Muitas vezes os melhores no conceito dos homens correram
graves perigos, por sua demasiada confiança. Por isso, para muitos é melhor não
serem de todo livres de tentações, mas que sejam frequentemente combatidos, para
que não confiem demasiadamente em si, nem se exaltem com soberba, nem tampouco
busquem com ânsia as consolações exteriores. Oh! Quem nunca buscasse alegria
transitória, nem deste mundo cuidasse, que consciência pura teria! Oh! Quem
arredasse todo vão cuidado, para só cuidar das coisas salutares e divinas,
pondo toda a sua confiança em Deus, de que grande paz e sossego gozaria!
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