quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Salmo 62: Sede de Deus
Vigia diante de Deus, quem rejeita as obras das trevas (cf. 1Ts 5,5)

— 2Sois vós, ó Senhor, o meu Deus!*
Desde a aurora ansioso vos busco!


No início de meu dia, Senhor, o encontro. Como fiel sentinela de minha alma, Ele está a postos e me incita a levantar. Busco o Senhor porque me buscou primeiro. Brota, então, de meu coração uma certeza maior e mais densa do que minha própria vida: “Sois Vós”!

Não consigo expressar palavra que desafogue o que sinto ao perceber Sua presença. O Senhor inunda, sustenta, refulge, abrasa. Persiste, entretanto, minha pequenez. Intuo que subsistir a este fogo abrasador é um mistério que não posso penetrar, mas não há espaço para nada mais que estar e agradecer estar ante o mistério que compreende tudo, onde minha origem e meu destino são uma parte muito pequena, e só se mantém por amor, pois nada sou. Ele é Deus, “o meu Deus”.

Não resta ação a não ser o amor e a união. “A aurora” manifesta o que a noite escondia. “Tudo foi feito por Ele, e, sem Ele, nada seria de tudo o que foi feito” (Jo 1, 3). Cala toda voz, as discussões e as guerras, e as bajulações. Toda vaidade silencia ante o Senhor Onipotente. E tudo é pura aurora e, nos seres, puro desejo e busca.

Onde calam as paixões, o amor pode falar: “ansioso vos busco”. Esta busca não tem desencontros, não é estilhaço e diversidade, mas unidade infinita e bela, finalidade de todos os desejos bons, capaz de saciar infinitamente o que todos os sentidos anseiam e, ainda assim, não cessam de desejar sempre mais. Paz e silêncio em toda da terra!

“És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te.

Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso. Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue?

Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.

Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador”. (Santo Agostinho, Confissões I,1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário