Salmo 62: Sede de
Deus
Vigia diante de Deus, quem rejeita as obras das
trevas (cf. 1Ts 5,5)
— 2Sois vós, ó Senhor, o meu Deus!*
Desde a aurora ansioso vos busco!
Desde a aurora ansioso vos busco!
No início de meu dia, Senhor, o encontro. Como fiel
sentinela de minha alma, Ele está a postos e me incita a levantar. Busco o
Senhor porque me buscou primeiro. Brota, então, de meu coração uma certeza
maior e mais densa do que minha própria vida: “Sois Vós”!
Não consigo expressar palavra que desafogue o que sinto
ao perceber Sua presença. O Senhor inunda, sustenta, refulge, abrasa. Persiste,
entretanto, minha pequenez. Intuo que subsistir a este fogo abrasador é um
mistério que não posso penetrar, mas não há espaço para nada mais que estar e
agradecer estar ante o mistério que compreende tudo, onde minha origem e meu
destino são uma parte muito pequena, e só se mantém por amor, pois nada sou.
Ele é Deus, “o meu Deus”.
Não resta ação a não ser o amor e a união. “A aurora” manifesta o que a noite
escondia. “Tudo foi feito por Ele, e, sem
Ele, nada seria de tudo o que foi feito” (Jo 1, 3). Cala toda voz, as
discussões e as guerras, e as bajulações. Toda vaidade silencia ante o Senhor Onipotente.
E tudo é pura aurora e, nos seres, puro desejo e busca.
Onde calam as paixões, o amor pode falar: “ansioso vos busco”. Esta busca não tem
desencontros, não é estilhaço e diversidade, mas unidade infinita e bela, finalidade de todos os desejos bons, capaz de saciar infinitamente o que todos os sentidos
anseiam e, ainda assim, não cessam de desejar sempre mais. Paz e silêncio em
toda da terra!
“És
grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável
tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente
o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e
a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua
criação, deseja louvar-te.
Tu
mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso
coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso. Concede, Senhor,
que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes
conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te
conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem.
Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas
como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos
pregue?
Com
certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram
e os que o encontram hão de louvá-lo.
Que
eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me
pregaram teu nome. invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me
inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador”. (Santo
Agostinho, Confissões I,1)
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