segunda-feira, 6 de junho de 2022

 


As seis torres que protegem o castelo:

algumas dicas sobre como rezar bem.

Padre José Ruy Corrêa Júnior

 

Todo bom católico sabe que precisa rezar, mas a grande maioria nunca pediu uma orientação sobre o tema.

Muitíssimos são aqueles que ostentam aquela oração corrida no final do dia, dizendo que “tudo o que faz é feito em oração”, ou que “conversa com Deus o dia inteiro”. Mas essa ideia não convence muito...

Outros são aqueles que com muito boa intenção se perdem em um monte de fórmulas devocionais aprendidas nos vários canais católicos, sem um acompanhamento personalizado. Nestes casos, o católico poderá se esquecer de que sua principal missão está na família e no trabalho profissional, e não nas madrugadas desveladas ou em outros ascetismos mais ou menos exagerados.

Não é por mal, mas nem todos os bons conselhos encaixam em todas as rotinas.

Sendo assim, que tal procurar auxílio na Tradição da Igreja? Afinal, tantos homens e mulheres: pobres e ricos, religiosos ou seculares, crianças ou idosos; encontraram seu caminho para “rezar sempre, sem nunca desistir” (Cf. Lc 18, 1).

Sendo assim, proponho aqui um conselho de padre, eco de outros escritos e mestres de espiritualidade. Pois, no que diz respeito à oração, a novidade não se dá no método, mas na prática, pois a voz de Deus é sempre fresca e jovem.

Pressuposto

Antes de tudo, é necessário estar firmemente convencido de que a santidade é um trabalho de Deus na alma. É o Espírito Santo que nos santifica. Ele nos pede colaboração, docilidade, acolhimento, querer, amor, amor e amor.

Uma vez que entramos de verdade no caminho de Cristo, então o Espírito de Deus deve tornar-se o senhor do castelo da nossa alma. Sem dúvida Ele o é. Mas os inimigos da nossa alma: a carne, o mundo e o demônio (S. João da Cruz), tentarão sempre apossar-se deste castelo. Neste caso, o Espírito Santo deixará seu posto de governo para “tomar armas” e mostrar-se como nosso Defensor.

Contudo, o ideal é que construamos uma muralha de oração para que os inimigos nunca cheguem a perturbar o núcleo do castelo de nossa alma. Pois, enquanto os ataques se concentrarem na muralha, o Senhor do castelo, Deus, poderá trabalhar tranquilamente em nossa santificação.

Esta muralha se compõe de 6 torres de guarda, que precisamos restaurar todos os dias, pois é sobre elas que cai o insistente ataque dos inimigos. São elas: a Sagrada Escritura, a oração mental, a devoção à Santíssima Virgem, a formação cristã, o exame de consciência e a oração do corpo. Com estas torres levantadas e cotidianamente cuidadas, os assaltos do inimigo não nos farão danos. 

A primeira torre: A sagrada Escritura.

Nós fomos criados pela Palavra de Deus e, por isso, a Escritura, que é uma expressão importante desta Palavra, junto com todo o resto da sagrada Tradição, nos toca particularmente.

 Precisamos ver no Texto sagrado um bom dia cotidiano de Deus. De fto, aconselho que seja o primeiro ato de piedade do dia. Acompanhado de uma oração ao Espírito Santo e terminado com um pedido de ajuda à Virgem Maria e aos santos de devoção de cada um.

Aconselho também que o fiel leia o texto proposto pela liturgia do dia: leitura, salmo e evangelho; mas que o leia de modo interessado. Capturando intencionalmente um versículo ou imagem que será sua defesa durante todo o dia.

Sempre que vier uma distração ou tentação, na aspereza do esforço ou na flacidez do tédio, poderá recordar esta palavra que guardou cuidadosamente no início de seu dia.

A segunda torre: A oração mental.

A oração mental ganhou este nome em complemento à oração vocal, que costuma ser lida em comunidade. A oração mental é aquela oração pessoal que não necessita necessariamente ser lida ou dita, poder ser que a palavra pronunciada a suporte em determinadas ocasiões, mas não é essa a sua essência.

Aconselho que, a partir do Texto sagrado lido no início do dia, se conceda a Deus 10 a 15 minutos de oração mental. Pode ser uma pergunta, uma inspiração, uma partilha, um louvor... tudo isso dirigido a Deus e de modo muito pessoal.

Não há desculpas! É necessário separar um tempo para Deus! Oxalá esse tempo chegue a 30 minutos pela manhã e mais 30 pela noite. Que deliciosa é a direção espiritual, quando ela é preparada por esta meditação diária e cada vez mais íntima!

A terceira torre: A devoção à Santíssima Virgem.

Cada dia estou mais convencido de que, ou temos devoção à Santíssima Virgem ou não temos verdadeira vida espiritual. Como é fácil ceder ao orgulho espiritual de quem acredita que pode “exigir coisas” de Deus, ou então ao desânimo e desespero, se não temos como regra e medida de nosso colóquio sagrado, o exemplo e a proximidade da Santíssima Virgem.

Experimento e explico a torre de oração que é a devoção mariana como a exposição a uma presença forte e silenciosa. Basta que sejamos conscientes da presença de Nossa Senhora para mudarmos. Mudarmos de atitude, de pensamento, de postura, de coração. Ela nos muda!

Convido sempre a que experimentemos com as incontáveis almas santas do céu a força imaterial de saudarmos Nossa Senhora com a saudação do anjo: “Ave-Maria”.

Sem dúvida, a melhor prática devocional mariana é a recitação do santo Rosário e, quando o fiel me diz que não consegue parar meia hora para rezar o terço, eu digo sempre que comece com uma dezena no início do dia, acrescente mais uma na primeira folguinha da manhã, outra mais ao meio-dia e mais uma ainda, quando sobrar mais um intervalo. E que não durma antes de rezar as dezenas que faltarem para o seu terço diário. Experimente!

A quarta torre: A formação cristã.

Temos a necessidade diária de acrescentar um pouco de conhecimento cristão em nossa inteligência. Daí vem a torre da formação cristã. Escolha um livro espiritual, algo que te agrade: uma biografia, um livro de doutrina, o Catecismo da Igreja... e leia, todos os dias, 5 minutos desta obra.

Não é necessário mais do que isso.

Sempre haverá aquele fiel com mais fôlego para ler mais. Eu não sou contrário a uma leitura mais prolongada, desde que seja diária. E, naqueles momentos em que não sobra tempo para nada... que sobre pelo menos 5 minutos de leitura espiritual.

A quinta torre: O exame de consciência.

Ao final do dia é necessário revisitar o dia que passou. Como foi? A que horas você despertou? Como foi seu dejejum? Com quem se encontrou durante o dia? Por onde passou? O que você viu e ouviu? O que fez e o que fizeram contigo?

Depois que este resumo do dia foi atualizado na memória, é importante se perguntar: Quais são os meus motivos de hoje para agradecer? Quais os motivos para pedir perdão? E, então, formule um propósito de melhora para o dia seguinte.

Já imaginou se você conseguir vencer um vício por dia? Como você estará depois de um ano de prática?

A sexta torre: A oração do corpo.

A sexta torre não é propriamente uma prática, mas uma atitude. Nós precisamos rezar com o corpo. Olhar, levantar, ajoelhar, erguer as mãos, peregrinar, jejuar... tudo isso são movimentos que conscientizam o seu corpo de que você está rezando.

Se sua posição corporal for de descanso, habitualmente, você não rezará bem. É necessário mover-se! Ou suportar uma posição determinada pela vontade, para que você reze de corpo inteiro. E esta atitude deve acompanhar todo o seu dia.

Visitar o Santíssimo, acender uma vela, praticar uma abstinência, endireitar a postura: tudo isso pode se transformar em um ato de amor. Muitas vezes é a prática do corpo que convidará a alma para a oração.

Conclusão

Espero que estes conselhos sejam úteis.

Você encontrará muitos outros diretamente do Espírito Santo, quando a oração fizer parte da sua rotina diária.

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